20/12/2018

Você deveria assistir Please Like Me, eu te digo porque


Como alguém cheio de argumentos muito bem elaborados, já começo jogando na sua cara esse protagonista fofíssimo. Prometo tentar fazer os demais pontos positivos se equipararem a esse.

Brincadeiras a parte, começo o post como sempre. Espero que esteja tudo bem contigo.

Há tanta coisa sobre a qual quero escrever, mas como o ato de sentar para, de fato, escrever faz tudo ir por água a baixo, optei por uma abordagem prática: bora falar de recomendação, porque todo mundo adora dar uma lista de quereres um pro outro.

Please Like Me é uma série australiana que estreou em 2013 e terminou em 2016. 

Uma resenha bem corrida é: Joshua é um cara comum. Um jovem australiano fazendo uma faculdade pra qual ele não liga muito, seguindo a vida na medida do possível equilibrando dramas familiares sérios e alguns com lente de aumento (que sempre tem em toda família), amizade, uma vida complexamente (in)dependente e suas próprias crises abafadas, expostas, subliminares e uns momentos legais.

Basicamente: Dramas de jovem saindo da adolescência, umas paradas sérias, fragilidade humana e humor. 

Sério, olha a cara de pateta dele, como resistir?


Parando agora pra pensar, não sei bem o que dizer pra convencer alguém a assistir essa série.

Pra mim foi uma escolha bem superficial a princípio.
Numa busca por LGBT no Netflix me apareceu por acaso, achei o design da imagem de "capa" da série bonitinho e adicionei a minha lista. Entre esse momento e o assistir passaram-se mais ou menos uns dois anos.

No começo me choquei um pouco com o tipo de humor.
Sempre fui meio chata pra piadinhas sexuais, mas no contexto da história elas são até que importantes pra fazer jus ao convívio de jovens na atualidade. Não é algo forçado em que você consegue antecipar os momentos da Risada de Auditório, são parte do diálogo entre amigos, não é relevante, não é nem o que eles realmente estão tratando na conversa, é justamente o modo como muitas pessoas falam do que choca pra abordar um tema sensível sem se abrir aos olhos de quem não a conhece.

Sei que parece um pouco de piração da minha parte, mas é realmente uma série muito, muito sensível.

Os personagens são bem construídos, mas demora um tempo até que você entenda e seja cativado por eles. Conhecer e entender cada um é um processo nada linear, porque a trama assim como a vida é totalmente imprevisível e cheia de acontecimentos que aparentemente não levam a conexão alguma, mas no fim marcam os indivíduos e os tornam quem são.

É engraçadinho, tem uma pegada super leve pra tratar de vulnerabilidade e doenças mentais e também retrata uma série de crises presentes na vida e que muitas vezes não são faladas.

Uma coisa que me fez parar e olhar a série com atenção foi o fato de o protagonista muitas vezes se colocar fora das situações em termos emocionais. Na verdade, ele e muitos dos secundários vivenciam as coisas mas não verbalizam o que foi causado. Eu cheguei a me incomodar em vários momentos porque "ele precisa falar, tem coisa demais guardada lá dentro" e isso é muito relevante.
É relevante porque é assim que vemos todos a nossa volta. A gente enxerga a pessoa passando pela vida, mas não tem a chave de acesso pros seus pensamentos. Tentamos nos colocar no lugar do outro, mas na realidade só conhecemos a nossa própria percepção e jamais teremos 100% da experiência alheia.
E é assim também na série. Você não tem como se colocar nos sapatos dos personagens, porque eles se mostram fechados e tão distantes como as demais pessoas da sua vida. O Outro, literalmente.
Isso te coloca numa posição impotente. Você pode assistir a série, mas não vai saber como eles pensam, porque você é você, tem acesso apenas ao seu repertório. E isso te mantém exercitando empatia.
Você se apega aos fragmentos que te dão, não a um briefing que define todos os porquês e mesmo assim escolhe abraçar aquelas pessoas.

Me parecem pontos altos o bastante pra dar uma chance pra essa série. É curtinha, tem só quatro temporadas e cada uma tem pouco mais de dez episódios. Vale a pena c: .


Espero que tenha dado pra entender, foi um post escrito de forma compulsiva e não sei se o nível de coesão de ideias tá aceitável.

Enfim, assista Please Like Me.

Beijo, abraço.

11/12/2018

Um Milhão de Finais Felizes e a Quarter Life Crisis


Oi gente.

Espero que esteja tudo bem com você, ou que pelo menos fique bem num curtinho espaço de tempo.
De qualquer modo, este post visa te animar e, de quebra, talvez te reconfortar com relação a neuras  sugadoras de energia. Yay.

Certo, por partes: você já ouviu falar de Vitor Martins?

Bem, eu nunca tinha ouvido até comprar dois livros dele e descobrir que fico bem feliz dele existir no mesmo universo que eu.

Pelo pouco que sei, Vitor é um cara jovem (um famoso vinte e tantos) que já trabalhou como ilustrador e conseguiu dar certo como escritor recentemente. Ele é um gay fofíssimo que mora em SP com seu namorado e dois filhos felinos.
Já fui totalmente com a cara dele, claro.

Agora que você já foi apresentado, vamos ao livro que nomeia este post: Um Milhão de Finais Felizes.


Pois bem, começando com um projeto gráfico lindinho e capa e contracapa ilustradas com tipografia de coisa fofa, a gente já sente que o que vem por aí é uma obra claramente Young Adult. E sabe, acho que esse foi o primeiro livro que li e me peguei pensando "Cara, isso é literalmente a minha vida e os meus anseios, num livro sobre pessoas que SÃO MESMO jovens adultos. " parece meio óbvio, mas não é.

Sempre fui muito de ler histórias de gente comum. Sei lá, gosto de YA, da ideia de tramas sobre jovens com problemas não tão dramáticos, retratados de forma fiel, tendo minha própria porção de dramas atendidos nas páginas imaginadas por alguém que já passou por isso, mas que também queria essa versão alternativa e com um final feliz.
Mas depois que você sai do colégio, chega um momento em que ler sobre adolescentes tendo momentos epifanicos sobre como dar seguimento a suas vidas e o "final feliz" como um futuro na faculdade e a vida adulta incrível que espera o protagonista acaba perdendo o encanto. 
A vida adulta já te alcançou e o encerramento bonitinho e esperançoso não transforma a realidade. 

Por isso esse livro é legal. Ele fala de pessoas perdidas. E essas pessoas são genuinamente Jovens Adultos. A fase intermediária em que nada te é imposto e ao mesmo tempo todas as demandas do mundo exigem serem cumpridas subliminarmente.

Não vou entregar mais nada sobre o livro, porque minha ideia era só uma apresentação ao tema mesmo, então fica aí a pulga atrás da tua orelha (acho essa expressão bizarra, mas acabo de usar ainda assim).

Agora vamos a Quarter Life Crisis. 


Nada mais é do que uma extensão ao assunto que abordei ao tratar de YAs. 
A vida de um ser humano é normalmente permeada de crises existenciais, mas algumas delas são tão famosinhas que até recebem nomes e são abordadas constantemente (o que gera uma banalização, mas fazer o que). 
Todo mundo sabe da crise da meia idade, certo? Seguindo essa lógica temos aqui a crise da meia meia-idade: tcharammmm! 
Agora que você constatou como fica horrível escrever isso em português, voltemos a utilizar o inglês, tá. Sei que é chato recorrer o tempo todo a estrangeirismos, mas juro que dessa vez é por uma boa causa.

Pois é, te avisam de muitas coisas conforme você vai crescendo: precisa entender noções de hierarquia, você precisa trabalhar pra ter uma vida decente, trabalho bom vem de estudo etc. 
Mas ninguém te fala que ter todas essas noções vão te perseguir afim de que você seja "Um Adulto". 
Afinal, o que é uma pessoa adulta, além de ter mais anos de vida? 

Na minha lista constam essas respostas: 
  1. Independente
  2. Uma pessoa que tem estabilidade no emprego.
  3.  Alguém que arca com todas as suas contas
  4. Tem seu próprio lugar pra morar (dividido ou não, sem família)
  5. Formado, seja lá como for
  6. Capaz de suprir 100% de suas necessidades (o que pode ser um sinônimo pra independente, né não)
Não parece muito, são só seis itens, mas vê se alguém que você conhece na casa dos vinte anos tem esse checklist completo. Se alguém te veio a cabeça, essa pessoa tá de parabéns. O resto de nós está no foço das lágrimas mesmo.

Brincadeiraaa! (quase) 

Estamos bem, porque essa lista é uma construção falha e ilusória. Ninguém devia sequer ter isso em mente. No entanto, cá estamos. 

Diariamente tenho que me lembrar de que tudo bem eu não ter tudo resolvido. E descobri que isso não é um problema só meu. Meus amigos tão na mesma.
Meus amigos, que até outro dia acreditei estarem no pilar acima, ticando itens da lista. Foi aí que veio a realização de que ninguém vira adulto nunca, você continua perdido, a diferença são algumas mudanças de status ao longo do caminho.

Ok, parece que tudo dito até agora só fez a construção de estabilidade ruir ainda mais, mas acredite, tá tudo bem mesmo.

Porque é isso que é a Quarter Life Crisis. O processo de desrealização e quebra da expectativa gerada ao longo de pelo menos duas décadas.

E depois disso você tira essa mochila cheia de pedras das costas e joga ela fora.
Melhor, você atira ela da janela do oitavo andar, depois tira as pedras e doa a mochila pra quem precisa, cumprindo a metáfora e sendo decente.

Não posso dizer sobre como o mundo fica maravilhoso depois de se livrar das pedras, porque ainda não cheguei lá. 
Por enquanto o que tenho é a experiência de quem tá vivenciando tudo isso e sobrevivendo, mais pra mais do que pra menos. 

Se a experiência vale alguma coisa, que o compartilhamento chegue a alguém que ressoe com ela e se sinta acolhido.
Caminhamos juntos para a desrealização de todas as coisas que pesam.

06/11/2018

Um papo sobre escolhas acadêmicas e pirações



A verdade nua e crua?
Eu tô praticamente a Clarice Falcão no filme Eu Não Faço a Menor Idéia do que Tô Fazendo com a Minha Vida. Sério.
Antes de qualquer coisa, fica uma dica se não assistiram a esse filme ainda. Quando lançou assisti no cinema com a minha mãe, olha que fofinho.

Bem, vamos ao ponto: quem é que sabe o que quer realmente? O ser humano tem sempre tantas inteligências desenvolvidas, algumas pessoas são boas em tanta coisa, ou mesmo que sejam duas coisas distintas, já dá uma dor de cabeça porque né, “escolher faculdade você escolhe uma só, Joãozinho, decide aí a profissão que vai trazer comida pra tua mesa e vê se  decide rápido”.

Nada espera por ninguém, nem a gente. É o que dizem, aliás, é o que nos mentem.

A verdade é que o mundo é grande demais e as idéias que colocam na nossa cabeça sobre ensino superior e carreira profissional são microscópicas. É tudo um plano de caixinhas que ou você tem a sorte de encaixar, ou sucessivamente vai tirando seus pedaços e se diminuindo pra fazer caber. E estou aqui pra tentar quebrar um pouco isso.
Tenho amigos de todo jeito. Uns estão felizes na faculdade que escolheram e seguem firme no sonho do Emprego Ideal e Seguro TM; outros que estão no meio de uma faculdade de afinidade mais ou menos e pensando no que fazer a seguir;  gente que se formou, trabalhou e quebrou a cara com a profissão e agora ta ralando pra se descobrir de novo; outros que nem fecharam nada ainda, tão pulando de área em área a procura do encaixe acadêmico quando tem mil paixões no peito.
Tem de tudo.

Um pouco de mim também ressoa com cada um deles.
De um lado fiz um curso que me fez mergulhar numa área que gosto, do outro tem a dificuldade de achar emprego e aquela vozinha na cabeça que diz que pegar o caminho das profissões básicas vai resolver tudo na minha vida. Por um terceiro e holístico ponto de vista, há em mim a vontade de largar tudo e fazer trabalho voluntário por aí, morar em países diferentes com emprego só pra pagar moradia e viver a juventude antes que acabe.

É um enorme potpourri .
Sabe o que pira mais ainda? Que nenhuma das opções é 100% certa e confiável. Não tem um Emprego Ideal e Seguro TM me esperando em nenhuma das portas que eu acho que devo abrir, só tem umas possibilidades. Nem estas definidas.

A partir desse ponto, que parte de uma ausência de caminho certo, a gente começa a pensar de uma forma diferente.
Não adianta seguir o que a tua família quer, não é sucesso garantido.
Não adianta fazer um curso difícil e que o salário paga bem no futuro, você pode odiar tudo e desistir.
Às vezes nem fazer o que você acredita que quer é a solução da tua angústia. A gente muda, cada novo dia somos um novo ser humano, com novas habilidades, convicções, a gente muda e as aptidões também. Nada é perda de tempo, a chave é se respeitar dentro das fases.

Então se liberte, permita-se escolher as coisas erradas. Ou demorar a escolher. Até mesmo trocar a opção que antes era definitiva. Porque nada é.
Não tem nada de errado com a gente. Pessoas plurais merecem várias opções mesmo e a vida não veio destrinchada pra você, então se permita descobrir vários caminhos.

É isso, só queria te dizer que cê pode fazer tudo e que tá dando certo c: .

20/10/2018

Sobre viver sozinha


Oi!

Depois de um ano cheio de experiências que me fizeram amadurecer muito devido a enorme quantidade de tapas na cara tomados, acho importante fazer uma série de relatos do que vivi e como isso fez diferença não só no meu modo de ver o mundo hoje, mas também na maneira como eu me coloco a frente das coisas com uma postura diferente.

Bem, espero que sirva de alguma coisa. Quem sabe lendo as trapalhadas que dei alguém consegue evitar na sua própria estrada de tijolos amarelos?

Viver sozinha é mais fácil do que parece, já começo por aí.
Assim que cheguei em terras estrangeiras, fiquei num hotel enquanto procurava um apartamento definitivo. Durante esse período até que curtinho e bem antes dele sempre me achei incapaz de levar uma vida completamente independente.
Por anos tive pavor de sair do país, não conseguia me ver sem alguém morando comigo, sem companhia pras horas de ansiedade e medo do futuro, sem ninguém pra me dizer que as coisas ficariam bem não importando qual a crise da vez.
Pois bem, arranjei uma companheira de casa, era como se meu mundo estivesse com os pilares no lugar de novo. O que poderia dar errado? Tudo, basicamente.

Não que eu seja a favor de vidas heremitas e que o contato humano seja algo ruim, longe disso. Mas agora consigo ver que não é a companhia ininterrupta que nos fortalece, e sim a maturidade de conseguir ser autosuficiente e saber se cuidar, tendo noção das nossas próprias necessidades.
Todo mundo merece conseguir morar sozinho. Sério, é algo importante, ter vontade de conquistar algo só seu. Nada eterno, mas o suficiente pra se conhecer e se levar a sério no sentido de que "em caso de emergência, tenho a mim mesmo, e tá ok"

Depois de quatro meses horríveis, consegui me mudar e fui prum mini lugar de 18m². Foi a coisa mais libertadora que já fiz. Comecei a cozinhar pra mim, descobrir minhas medidas de consumo, o que eu realmente gostava de comer, o que me dava aflição e ficava até estragar.
Aprendi o meu método de limpeza, meus horários de pique pra cuidar das tarefas (porque convenhamos, não é com qualquer um que você pode começar a aspirar a casa ás 3 da manhã).
Comecei a aprender coisas novas, me entreter com assuntos que realmente importavam pra mim. Não tinha mais aquela obrigação em ir atrás do que agrada ao coletivo, era eu.

Comecei a me conhecer de verdade. Não era enquanto filho, estudante, jovem não contribuinte, o mais novo, era uma pessoa completa. Alguém 100% relevante.

Descobri que a vida pode ser mais natural, comecei a fazer escolhas de produtos que me agradavam. Passei a ter um estilo de vida mais reduzido, algo que combinasse com os meus ideais, que ressoasse comigo, não o que deixasse as pessoas menos intrigadas com as minhas escolhas "esquisitas". Não tinha a quem agradar, era pra mim.

Parece meio bobo, mas faz toda diferença. Aprender o que te faz bem é um caminho longo, a gente acha que se conhece, mas tenta ficar 6 meses por conta de toda uma casa e sua rotina.

Vai por mim, vale a pena e você merece.