28/07/2014

Poesia: quatro poetisas fantásticas

Olá!
Que todos estejam bem e felizes, porque o post de hoje é bem especial.
Não sei se vocês sabem, mas sou a-pai-xo-na-da por poesia. De alguns anos pra cá acabei gostando cada vez mais e mais e agora, vejam só, estou escrevendo um post sobre isso!
Sinceramente, por ter um tiquinho de feminismo correndo pelas veias, minha tendência é procurar por poetisas sempre que posso. Não que poetas não me agradem, mas convenhamos que mulheres precisam ter seu espaço! Mentira, o gênero do autor não tem nada a ver, mas pra começar a introduzir poesia pra vocês, imagino que começar com as minhas preferidas é o melhor a fazer, né?
Nesse post, falarei sobre três poetisas de que gosto bastante e colocarei alguns de seus poemas.




A primeira de quem irei falar é a minha predileta dentre todos  os poetas do mundo todo!

Florbela Espanca



"Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, criada de servir . Registrada como filha de pai incógnito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da época e com o grupo de mulheres escritoras que então procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos. Os casamentos falhados, assim como as desilusões amorosas, em geral, e a morte do irmão, Apeles Espanca, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar». Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina (em que alguns críticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse contínuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX."



Antes de mais nada, o que marca a poesia da Florbela é o sentimentalismo e a melancolia exacerbados. Todos os seus poemas expressam o íntimo da poetisa, sempre deixando suas aflições e pensamentos serem transpostos através dos poemas.
A meu ver, as obras se encaixam perfeitamente no Romantismo, já que abordam principalmente questões do âmago do ser e do amor inatingível, além de sempre buscar pela infinitude e satisfação plena não encontrada nas coisas do mundo. Se isso não é ser romântica, eu não sei o que é, visto que para o romântico a vida deveria ser "feita de excessos" e vivida intensamente para que o eu amadurecesse e alcançasse o conhecimento total de si mesmo.


Alguns de seus poemas:

Fanatismo

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."


Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Só 

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...



Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!



Cora Coralina


"Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que nasceu em Goiás em 1889 e veio a falecer em 1985, em Goiânia., foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das principais escritoras brasileiras, teve seu primeiro livro publicado em 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase 76 anos de idade.Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás."

Uma senhorinha aparentemente muito simpática, com a imaginação maior que tudo e um talento sem proporções para versificar. Todos os poemas de Cora Coralina são carregados de sutileza e doçura, revelando a personalidade da poetisa. Sem palavras rebuscadas, as obras são escritas de forma simples, mas com uma enorme profundidade sobre os temas abordados nos poemas.


Alguns poemas:


Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

  Criação

Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada. 
O tempo, o espaço, 
normas e costumes.
Erros e acertos. 
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos

Meu epitáfio

Morta... serei árvore,
serei tronco, serei fronde
e minhas raízes
enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.

Enfeitei de folhas verdes 
a pedra de meu túmulo
num simbolismo
de vida vegetal.

Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.



Cecília Meireles


"Cecília Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, aos três anos de idade passa a ser criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Formou-se professora pelo Instituto de Educação em 1917. Passa a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro. Em 1922 casa-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Viúva, casa-se pela segunda vez com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo. Estudou literatura, música, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931, publicou vários artigos sobre os problemas na educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.Cecília Meireles lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas, em 1940. Profere em Lisboa e Coimbra, conferência sobre Literatura Brasileira. Em 1942 torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realiza várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura Educação e Folclore.Morre no Rio de Janeiro em 1964."

Cecília Meireles é, provavelmente, a poetisa brasileira mais conhecida nacional e internacionalmente. Com uma longa lista de obras publicadas, a poetisa viveu grande parte de sua vida fazendo trabalhos voltados para a "divulgação" dos costumes e do folclore brasileiro. Seus poemas abrangem uma enorme quantidade de temas, dos mais variados. Considerada uma das poetisas brasileiras mais influentes, é conhecida até hoje e lembrada por muitos por suas obras atemporais. Não importa em que ano esteja sendo lido um de seus poemas, ele se encaixa perfeitamente na realidade de quem lê.


Alguns poemas:

4o. Motivo da rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.


Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.


E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

 



É preciso não esquecer nada
 
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
 
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
 
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
 
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.
 
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence. 


Motivo
 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.


{Fonte: }

1 comentários:

  1. Li todas as poesias. Amo-as, e adorei todas as que compuseram o post. Amei a postagem e espero que faça mais como esta (eu amo muito teu blog, haha).

    Com magno carinho, Sakura | Miki Candy

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